
Falecido em 2015 aos 93 anos, o ator Christopher Lee carregava consigo uma trajetória, no mínimo, interessante. Conhecido por atuar em O Senhor dos Anéis, O Vampiro da Noite, Star Wars, 007 e A Fantástica Fábrica de Chocolate, Lee ganhou popularidade ao interpretar Saruman — sendo o único do elenco que conheceu J. R. R. Tolkien, escritor do livro homônimo.
Antes de adentrar o mundo da atuação, Lee foi piloto da Força Aérea britânica (RAF, na sigla em inglês) na Segunda Guerra Mundial, aos 18 anos. Ao sofrer um dano no nervo óptico e ser impedido de voar, Lee foi nomeado oficial de inteligência, quando quase foi bombardeado duas vezes. Foi designado para caçar nazistas fugitivos. Em um ano só, o ator pegou malária seis vezes.
“Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, eu tinha 23 anos e já tinha visto horror suficiente para durar uma vida inteira”, afirmou ao jornal The Independent. "Eu vi muitos homens morrerem bem na minha frente — tantos, na verdade, que eu fiquei quase insensível a isso.” Caso não seja aventura o suficiente, Lee subiu no cume do Monte Vesúvio — que entrou em erupção três dias depois.
Em uma representação viva da expressão Deus ex machina — solução inesperada e improvável, quase uma intervenção divina —, Lee também é protagonista de uma teoria que afirma que ele seria um agente secreto. Após a guerra, o ator foi contratado pelo Serviço Aéreo Especial (SAS), período em que desapareceu por alguns anos e retornou falando 5 idiomas e entendendo 8. Suspeito, não?
As semelhanças com James Bond não param por aí. Se ainda não está convencido de que Lee foi a inspiração para o personagem criado por Ian Fleming, ele ainda era primo do escritor de 007. “Digamos que eu estava nas Forças Especiais e deixemos por isso mesmo. As pessoas podem ler nisso o que quiserem", disse ao Telegraph em 2011.
Na vida romântica, Lee ficou noivo de uma integrante da realeza sueca. Mesmo recebendo a permissão do rei da Suécia para se casar com ela, optou por cancelar o noivado devido à profissão de ator e o desejo por uma vida estável para a amada. Ah, e ele também testemunhou a última morte por guilhotina na França, em 1977.
Nas gravações de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, o encerramento da trilogia, o intérprete de Saruman aplicou uma experiência da vida real em cena. Quando Língua de Cobra (Brad Dourif) cravou uma faca nas costas do vilão, Lee corrigiu o cineasta Peter Jackson sobre o som que um homem faz ao ser esfaqueado: “Eu sei.”
Em 2009, foi condecorado Sir pela Rainha Elizabeth II devido aos serviços prestados ao teatro e à caridade. A lenda do cinema trabalhava ecleticamente, e foi um dos jurados do concurso de Miss Universo de 1995. Lee também ficou conhecido por adestrar um leopardo e andar com o animal na rua.
Aos 90 anos decidiu ampliar sua carreira artística para o mundo da música. Colaborou com a banda italiana Rhapsody of Fire e lançou álbuns de heavy metal, incluindo um álbum conceitual sobre Carlos Magno — de quem acreditava ser descendente direto.
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Lee acumula múltiplos recordes no Guinness World Records, incluindo o maior número de créditos cinematográficos e o maior número de mortes em filmes. Atingiu o recorde de pessoa mais velha a ter um hit no top 20 da Billboard, com a canção Jingle Hell.
Com uma vida que parece saída de um roteiro de cinema — e que ele mesmo poderia ter estrelado —, Christopher Lee foi muito além das telas. Guerreiro, poliglota, quase nobre por casamento e cavaleiro por méritos, viveu o extraordinário como rotina. Entre combates, filmes, idiomas e acordes, Lee provou que heróis não vivem apenas nos livros — às vezes, eles estão entre nós.