
Ao desembarcar em Belo Horizonte após dias de tensão em meio ao conflito entre Israel e Hamas, o prefeito Álvaro Damião (União Brasil), usou a primeira coletiva de imprensa para agradecer a aliados políticos, relatar os momentos de medo e, principalmente, cobrar o Itamaraty. “Nunca recebi uma ligação deles”, disparou, em tom de desabafo. A crítica expõe o desconforto com a nota oficial emitida pelo Ministério das Relações Exteriores, que afirmou que a viagem da comitiva brasileira — composta por prefeitos e outras autoridades — teria ocorrido “em desacordo com as recomendações consulares”.
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Na avaliação de Damião, a ausência de suporte do órgão diplomático contrastou com o esforço de outras autoridades, como a ministra Gleisi Hoffmann (PT), o senador Rodrigo Pacheco (PSD) e o senador Carlos Viana (Podemos), citados nominalmente durante a coletiva. O prefeito ainda mencionou a ajuda do deputado federal Mercinho Lucena (PP), que intermediou o retorno do grupo ao Brasil em avião fretado.
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“Recebi ligação da Gleisi, do Rodrigo (Pacheco), do (Carlos) Viana… Ao Itamaraty, deixo um conselho: resolvam rápido a situação dos brasileiros que ainda estão lá”, afirmou. O prefeito revelou que ajudou diretamente no retorno de uma mineira, Natália, empresária que ainda estava em Israel com o marido e os filhos. “Resolvemos por telefone. Façam seu trabalho. Apenas isso.”
Entenda o impasse
O atrito entre os prefeitos brasileiros em missão oficial a Israel e o governo federal teve início com a divulgação de uma nota do Itamaraty, que causou surpresa e indignação entre os integrantes da delegação. Segundo o ministério, o governo brasileiro “não tinha conhecimento” da viagem e reforçou que havia emitido, ainda em 2023, recomendações para evitar deslocamentos à região devido ao cenário de instabilidade.
A resposta oficial foi vista como uma tentativa de se distanciar politicamente da missão, que contou com apoio do governo de Israel e participação de autoridades alinhadas à direita. O desconforto gerou reação imediata dos prefeitos, que assinaram um manifesto público afirmando terem informado à Embaixada brasileira em Tel Aviv sobre a viagem — inclusive em reuniões formais.
Um dia após a nota, o Itamaraty voltou a trás, e afirmou que tinha o conhecimento da viagem.
“Ninguém foi passear”
Na coletiva, Damião rebateu a versão de que a viagem tenha sido feita de forma irresponsável. Disse que a ida a Israel estava sendo organizada há um mês e que se tratava de uma missão oficial, com participação de representantes de mais de 50 países. “Ninguém foi a passeio”, disse. “Se soubéssemos da guerra, ninguém teria ido.”
A tensão aumentou quando, no meio da agenda oficial, começaram os bombardeios. A comitiva precisou baixar um aplicativo de alerta de mísseis e foi orientada a se abrigar em bunkers a cada sirene. “Tínhamos um minuto e meio para chegar ao bunker. Dormir todos os dias com a lembrança do dia anterior era pedir a Deus pra que fosse igual: que a gente conseguisse sair de lá de novo.”